Rugas...

Às vezes, ponho-me a olhar para a gente que passa com olhos de gente que vê. Vê-se de tudo, vê-se tanto. Dizem que os olhos são o espelho da alma. Talvez. Mas hoje não foi nos olhos que vi a alma, não foram olhos que “invejei”. Hoje vi muitos velhinhos (o termo simpático que sempre gostei de usar). Reparei nas mãos engelhadas, nas marcas do tempo, no cansaço que uma vida impõe, nas cicatrizes que grava, nos olhares profundos, fartos de ver e tão completos de memórias, tão repletos de imagens…sim também reparei nos olhos e em tudo o que espelham… mas hoje? Hoje olhei-os com olhos de ver e reparei nas rugas que lhes contornam a face, que lhes escondem os lábios… tão diferentes e tão reveladoras.

Um dia vou querer ter a boca abraçada por rugas profundas…das que dispensam o sorriso dos lábios e o desenham elas, cedendo à força de um hábito, cedendo ao hábito de uma vida. Se é que me entendem… um dia vou querer ver a gente que passa olhar-me e, sem nada saberem sobre o que fui ou fiz um dia, senti-los pensar em silêncio “Ela não se cansou de sorrir, ela foi feliz, muito”.

As rugas falam… as minhas? Vão sorrir… nos lábios, nos olhos, no coração!

] Dany

Já diria o António Variações

"Rugas de chorar
Rugas de sorrir
Rugas de cantar
…Rugas de Sentir!
Rugas…"