
No
vazio de pensamentos soltos. Soltos porque saltitam entre realidades distantes. Soltos porque a percorrem sem permissão ou controlo. Na desordem de uma
inconstância. Inconstância porque é ela mesma em faces diferentes. Inconstância, porque na tamanha diferença chega a não se sentir ela. Na espontaneidade de uma
lágrima… e outra e outra ainda… espontâneas porque as sente tactearem-lhe a cara sem as saber deter, espontâneas porque chegam vazias de sentido, na denúncia de uma mágoa sem pilares, no desafogo de um sufoco sem amarras. Então, a meio de um soluço contido, pergunta-me:
“porque choro?”. Entre a confusão e a impotência, falham-me as palavras para quebrar o silêncio. Resta-me envolvê-la num abraço. Esboça-me um sorriso de volta, confuso, perdido... e as lágrimas que agora escorrem incontidas fundamentam-se no vazio das primeiras.
"Porquê?"...] Dany
1 comentário:
“No vazio de pensamentos soltos” tornamos relativa a nossa identidade, voamos sem limites e sem rosto por entre esses pensamentos, colocamos hipóteses de luz e escuridão, imaginamos o que seriamos se tal pormenor tivesse criado raízes nos nossos sonhos, quem seriamos, como viveríamos, o que nos iria “mover”?!
Para mim… no vazio de pensamentos soltos é onde me encontro, é onde crio a força de me afirmar sem medo perante um mundo demasiado diferente das minhas convicções gritantes.
Para mim a “inconstância” é o que rege as nossas vidas, relativiza as certezas de hoje e cria medos, pois as certezas futuras irão estar baseadas em algo tão inconstante como o ser humano, sempre sujeito a mutações diárias, medos, traumas, cicatrizes e egoísmos intrínsecos.
Temos de mergulhar acreditando no que nem todos vêem… nos pormenores secretos, que tornam essa pessoa nossa, tão nossa que sentimos uma certeza “suicida”, a certeza que essa pessoa merece existir na nossa vida, merece marcar a ferro e fogo o nosso coração, ainda que seja uma bomba relógio, pois toda a sua importância se reflecte num poder destrutivo de saudade se um dia a procurarmos e não a encontrarmos mais…
Se restar apenas o corpo dessa pessoa e a alma tiver partido, como poderemos quebrar este sofrimento embebido em saudade que nos rasga o peito?!
Por acção do tempo, por acção de moldes distantes que alteraram a sua forma, por mil e uma ameaças que roubam essas pessoas de nós e as tornam perigosas, por esse risco, por essa aposta, temos de sentir “as” certezas!
Temos de gritar sem raciocínios as nossas certezas baseadas no mais relativo possível, pois tudo o resto está deturpado pelo pensamento “inconstante” que rouba “aquele” e o “outro” da sua identidade presente.
Para que não adormeçamos numa vida embriagados numa “imunidade” plena ao sentimento, para que não sejamos “os intocáveis”, que tocam mas não sentem nada que os rodeia, por tudo isso temos de fechar os olhos e ler a nossa verdade…
Por tudo isso… choramos, sentimos, amamos…
E uma lágrima nada mais é que um simples grito d’alma, cansado de gritar e de cair num eco imenso e infinito, que afasta o nosso presente do nosso passado feliz e nos faz sonhar com um futuro mais certo que este relativo que fez com que a nossa alma nos rebentasse nas mãos…
Respeito muito “as lágrimas”, que nos lavam o rosto quando tamanha dor tenta “reiniciar” o nosso sistema emocional complexo, quando há uma tentativa de reestruturação de sentimentos e desilusões, as lágrimas são aquelas que reflectem tudo aquilo que as palavras já desistiram de alcançar… São as guerreiras da alma que ardem e consomem a nossa falta de coragem e nos gritam para seguir em frente…
Lágrimas… choro-as por acreditar que o futuro guarda o meu sorriso mais perfeito… e quero sofrer hoje arriscando porque “sim”, porque o meu “sistema” tem de ser reiniciado tantas vezes quanto as necessárias até que eu entre no “modo” certo, até que a minha mutação atinja o estado “pleno” e eu consiga enfim descansar numa espécie de “perfeição” errante que me vai adormecer numa simplicidade complexada pelo seu percurso passado.
Que a “inconstância” te leve a conquistar muitas “certezas” e que as “lágrimas” te levem até ao teu caminho Dany…
Um beijinho,
Carina
[Adorei simplesmente o que escreveste... é absolutamente incrivel como te descolas de ti própria e escreves desse jeito tão "teu"... e desculpa "responder" mas as tuas palavras acabam sempre por roubar as minhas ... =)... saudades minha pequenina...]
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